Guarde isso: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo. C.F.A

sábado, 2 de outubro de 2010

Leio e conto história

Com meus livros é assim, tem dias que eu os leio e tem dias que eu conto a história para mim.

Nos dias que eu conto, quando bem me dou conta, já estou na página cento e tarárá, nem percebo que o tempo se esvaiu em minutos.

Nos dias que leio, e apenas leio, também escuto os ruídos da rua, me encho, e tudo demora demora.

Nos dias que eu conto percebo vez em sempre as diferentes entonações da minha voz sussurrando, sei que sussurro abafado é o narrador, sussuro agudo é alguma personagem, e tem o sussurro agudo diferencial, que é para outro personagem - não sei denominar diferente se não "agudo diferencial", o que importa é saber seu significado, e só.

Nos dias que leio, preciso voltar a página e ler de novo, é chato chato. Falta saliva, dá sede, levanto e tomo água, lá se vai mais tempo e menos história.

E quando conto, não sou eu quem conta, embora conte, pois se fosse, eu cansaria, mas não canso. Na verdade pode sim ser eu. Mas como pode, se tanto parece que estou sentado ouvindo contarem? Eu conto e não conto, fácil fácil.

Meus livros são guardados em filas, com listras: li, contei, li, contei, li, contei. Depois volto para contar os que li e ler os que contei. Eles são meus, são meus. E não adianta um contado querer ser um lido, e vice-versa, o que não é não pode ser, e eu sei bem o que cada um é, são todos meus.