Me sinto solitário, não quando estou acompanhado, me sinto solitário quando estou sozinho. Eu sei que essa é a lógica, mas comigo tem sido diferente. Antes estar sozinho era divertido, eu estava carnalmente sozinho, mas por dentro eu não estava, eu era feliz e me divertia, hoje estar sozinho faz parte de uma tortura constante, é como se eu não bastasse para mim mesmo. Antes eu era feliz e sabia, sim eu sabia e sempre dizia que considerava felicidade o meu estado de espírito vinte e quatro horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano durante dezessete anos ininterruptos. Essa não é uma daquelas manias humanas de idealizar o passado, porque mesmo naquele presente eu entendia que era feliz. Hoje sou parcialmente e com sinceridade. Sou feliz com minha família, com meus amigos, com os grupos que participo, com os outros, não comigo, não mais. Por isso estou solitário, quem irá se aproximar de alguém que não consegue trazer a felicidade para si? Ninguém é tão idiota. Essa pode ser uma fase, uma das muitas, pelas quais terei que passar até achar o pote de ouro no fim do caminho; tem sido massacrante, decepcionante, tem me magoado. A culpa é minha, o problema é comigo, eu que estou fazendo algo errado, eu sei, mas o quê?
Se sentir solitário é ter sempre o mesmo filme preferido como companhia, é querer e ter para quem ligar e evitar por saber que pode ser ruim, é não conseguir ler um livro por sempre interrompê-lo com a própria história mil e uma vezes repetidas, é conversar com setenta pessoas e ver essas setenta pessoas evaporarem meia hora depois, é não encontrar apoio no próprio pensamento, nem espaço. Me sinto sem espaço.