Guarde isso: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo. C.F.A

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O último não tão romantico

Sentar na varanda ao entardecer e tomar um copo de café meio amargo,
odeio café,
cenários romanticos não se inserem no meu contexto,
sou regido por vênus, Deusa do amor
nasci em abril, o mês dos amores eternos
tanto amor em volta,
uma pseudoprofecia que tenta me comandar como marionete
mas meu elemento é o fogo, a impulsividade,
esse fala mais alto,
a lascividade, o sim, o querer mais que bem querer
e sempre querer
minha grosseria é disfarçada por algo singelo
lobo em pele, olhar e sorriso de cordeiro
bala de tamarindo em embalagem celofane
conduzido por desejos,
dependente de uma boa companhia para conversas,
estupidamente curioso e refém do conhecimento
totalmente diferente do esperado
qual a graça em ser previsível?
Defendo o que sei que quero, uso a retórica
e mais um punhado de informações interessantes que vão te prender, dopar.
No meu olhar, sabedoria.
Meu ser, cativante.
Eu, dono de mim.
Desejo, o menos realizável.
Signo, Áries.
Futuro, indeterminado.
Presente, com lacinho e carta rubricada.
Passado, a morte.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Canção de ninar gente grande.

Perco a conta da quantidade de canções para ninar gente pequena, com suas melodias "água com açucar"- em definição quase literal, algo doce que acalma. Ser gente pequena faz bem, é bom e alimenta, regozija a alma e faz crescer, mas é preciso ser gente grande às vezes, e para isso não há canção de ninar, nem doces de gratificação, só há um mundo exigindo que a insônia seja seu aliado, afinal quem precisa de descanso em uma terra de gigantes? A força da plenitude deve suprir a necessidade de dormir, o tamanho do ser, em análise estética, faz dele um grande heroi, e herois não dormem.

Quando abro a porta dou de cara um numeroso exército, tentando provar a sua solicitez competitivamente, acreditando que dormir seria perder tempo, e tempo é tudo que não pode ser perdido, com ele vão pessoas, sentimentos e glória, talvez enquanto fechamos os olhos o mundo acabe e o que tivesse de ser dito seria eternamente silenciado, as ações eternamentes imobilizadas e o amores jamais conquistados. Hipnos, deus do sono na mitologia grega, perdeu a leva do raciocínio, não sabe mais se é útil fazer dormir, por isso a falta de canções de ninar gente grande, acredito que ele seja o compositor. São tantas olheiras profundas, nenhum descanso, e sempre, sempre, sempre a mesma batalha em busca do que deve ser conquistado e o infindável debate sobre aquilo que foi perdido. Agora precisamos dormir, todos nós. Renovar a altivez e a esperança, e encontrar calmamente aquilo que realmente é nosso, se possível, compor nossas próprias cantigas e cantá-las sussuradamente até que a voz vá sumindo, sumindo, sumindo e enfim, após uma noite de sono, o novo dia, e uma nova vida, onde gente grande merece ser ninada.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Rapidinhas #12

Inteligente? Só quando não quero;
quando quero sou burro, animalesco, bocó.
- Olha, o lezado que me faz rir,
ele é tão engraçado - bradava a criança.
Que nada, baby, eu sou é desastrado.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pega-varetas é vida

Quem nunca jogou pega-varetas que atire a primeira tora de madeira gigante. Um dos jogos antigos mais divertidos, que exige concentração e paciência; mas o que está implícito?

Um complexo de sábio têm me invadido, procuro criar analogias para tudo, e percebi que brincar é uma paráfrase da realidade humana. Eu sou o pai, você é a mãe, esse aqui é nosso filhinho, eu sou o rei, você é o súdito e deve me obedecer, eu sou Jó, você é o escravo (Jó nem teve escravos) e deve jogar cachangá.

Pega-varetas reflete a nossa relação com os outros, as cores representam as diferentes personalidades, qualidades e também defeitos, cada uma merece uma pontuação diferente, dispensamos algumas cores, as menos relevantes, almeijamos as mais, e o nosso objetivo principal é sempre uma, aquela que faz tudo valer a pena, a de 50 pontos na sua singularidade e completa indiferença, não é a mais bonita, sempre é a mais difícil, e ainda assim por mais que unidades de varetas sejam conquistadas, por mais pontos adquiridos, a nossa obsessão paira no ar, se a conseguimos a felicidade emana no nosso sorriso vitorioso, a hegemonia exala no suor da testa, e se não conseguimos, ainda que ganhando o jogo, sentimos a decepção de nadar e morrer na praia, deixando até de perceber o quanto as coloridinhas são bonitas e alegres, com valor e serventia intríseca, preocupamo-nos apenas em não balançá-las, ninguém quer ser responsável por danos causados à outros na busca de algo pessoal.

Essa foi a historinha que elaborei e contei enquanto brincava com alguns amigos, todos disseram:
- Faz sentido.
E para não perder a oportunidade eles disseram antes:
- Você 'viaja' demais.

Rapidinhas #11 (alheia)

"E - de repente - senti. Estava tudo muito bonito. Esse mês de dezembro tá tão lindo, tão manso. Tão novo. Tão eu novo." (Caio F. Abreu)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Histórias de elefantes em gaiolas.

Ontem mesmo, depois de almoçar e brincar de cambalhota em cima das almofadas, comecei a anotar, ainda ofegante com as voltas que dei no chão, uma mini coletânea das metáforas que rondam acontecimentos na minha vida. Algumas aparecem como sonhos e outras de verdade verdadeira. Antes de ontem, depois de algumas chateações fiquei sozinho em casa, desejando ver um filme que só tinha visto uma vez, mas que tinha me feito um bem enorme, eu não lembrava o nome, nem os atores, só lembrava do bem, e como em um passe de mágicas o filme apareceu bem na minha frente, na sessão de sábado da Record. Como das outras vezes, fiquei pasmo, tem sido assim desde que desejei tomar um banho de chuva e choveu, e que surpeendentemente a minha banda preferida veio tocar na minha cidade, meu desenho preferido começou a ser exibido no horário que eu posso ver, e meu irmão pela primeira vez tenha passado de ano sem recuperação, e que eu tenha me divertido tanto com tão pouco. Tenho sonhado coisas que fazem sentido, sonhei com dois partos, uma amiga minha sonhou com um parto de gêmeos, depois de rirmos da coincidência de sonhos, descubro que o mais novo membro na minha família acabara de nascer; comprei um picolé me reclamando que nunca achei palito premiado, e ahan, o palito da vez era.

E a mais última me surpreendeu de maneira assutadora, enquanto eu trabalhava fui analisando as raivas, incompreensões, injustiças, gritos de felicidade, surtos de afeto e coisas que vivi ou deixei de viver por me prender, então recebo uma mensagem lá do Rio Grande do Sul dizendo o seguinte:

"Bebê! Sonhei contigo essa noite. Eu tinha ido para Pernambuco, na tua casa. E tu criava um elefante em uma gaiola!"

O interessante é um dia antes meu irmão ter dito: Sabe por quê os elefantes vão acabar extintos? Porque eles incomodam muita gente.

É isso, sempre foi isso, aquilo que mais me incomoda vive sufocado, seguindo regras de educação, convivência e senso comum, estagnado no tempo como a Macabéa de Clarice, sem hora nem estrela. A minha parte maior e mais espetacular, as desilusões, as raivas, a beleza, as risadas exageradas, tudo reprimido, tudo o que eu pude ser e não fui é um grande e pesado elefante em uma minúscula gaiola.

Quando sinais são interpretados como sinais tudo passa a fazer sentido, num encaixe simétrico, na perfeição, no aproveitamento de tudo como parte de um todo, e eles me seguem desde que passei a notá-los. Acho que comecei a aprender o que é realmente viver, os sinais são apenas a prova de que não estou sozinho, e que devo prosseguir, me orgulhando muito por ser intérprete de bobagens, um pouco lezado e habitante de um mundo paralelo.

*Para ler a sinopse do filme que eu estava com vontade de ver, clique aqui

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Rapidinhas #10

Ainda que não existisse nada a ser dito, deixar de se falar era a última hipótese cogitada.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ilumine suas ideias

Uma boa ideia perde essa classificação se não vier conectada à sustentabilidade, ou tantos outros "dades": responsabilidade (social), rentabilidade e criatividade. Troquemos então todo foco de luz artificial dos pensamentos por um bom satélite de luz natural, que tenha, em sua capacidade de refletir e seguir a luz, um brilho próprio e atraente.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sim

Sim eu quero.
eu quero isso que você está me oferencendo;
eu quero acordar cedo e ver que ainda está escurinho;
eu quero ligar o rádio e ouvir aquelas velhas canções;
eu quero me surpreender com o quanto a vida muda com o tempo;
eu quero dizer coisas sem sentido e ser entendido;
eu quero ouvir um susurro assim de novo;
eu quero pedir pela milionésima vez que cante aquela música;
eu quero exigir uma nova música sempre que eu enjoar a anterior;
eu quero dar motivos para que isso nunca acabe;
eu quero dar a segurança da minha palavra;
eu quero a sua em troca, e espero que ela me dê segurança;
eu quero tudo isso, e de novo, de novo, de novo, e mais um pouco;
eu quero dizer sim. Não, eu não só quero, eu digo:
SIM
porque eu quero tudo isso que você está me oferecendo.
E como quero. Eu quero você também, bem assim como eu quero, e tudo isso, e mais uma vez tudo.
É bom ter o que querer, sabia?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Rapidinhas #9

... e sempre sorria muito de tudo, assim, quando finalmente resolvesse sorrir de verdade e para si, ninguém notaria a diferença.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Muito bom, hein.

Tenho chegado tarde em casa, perdi aquela necessidade de sempre estar conectado ao mundo, meu celular com defeito não emite som quando "toca", dificilmente atendo uma ligação, muita gente reclama que chega a ser irritante me ligar mais de 10 vezes até que, por sorte, eu perceba que a luzinha do visor está piscando, minhas contas de sites na internet só são movimentadas enquanto o sol brilha, assumi meu toque de recolher, me recolher para mim. Pela primeira vez em anos os meus momentos são meus, o tempo abafado da cidade me inspira a andar, procurar coisas novas, atualizar minha lista de contatos, tem sido divertido de uma maneira singular.
Busco tranquilidade, para ficar perfeito só faltou aquele aspecto nublado e um ventinho frio no rosto, amo dias nublados, talvez também aquela garoa rara nessa região, que quando surge me encoraja a aventurar por aí. Com um fone no ouvido insisto em ser retrô, escutando sucessos romanticos dos anos 80 (para baixo), Simple Red se tornou mais legal, até mais frequente que os Beatles. Acabei aprendendo que para encontrar gente que me dê aquela boa impressão de que somos dotados dos mesmos gostos, preciso frequentar lugares que me fazem bem, tecnicamente lá estarão outras pessoas que se sentirão bem da mesma maneira, não sei como, mas puxaram violentamente um enorme manto escuro da minha cabeça, estou vendo coisas que antes eram desconhecidas, estou descobrindo de verdade, sentindo o sabor disso, parece que na página 100, capítulo 4, do meu manual, tem um espaço reservado com ensinamentos de como fazer o que vai me deixar bem comigo, e quais pessoas eu precisaria conhecer para que isso acontecesse. Ainda ouvindo Simple Red, e saindo de um dos meus "points", eu canto alto como se ninguém estivesse me ouvindo: You Make me Fell Brand New.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Rapidinhas #8

A sensatez deve ser sucumbida pelo calor do sentimento, com destreza é claro, e um cuidado cirurgico que evite cicatrizes indesejadas.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Intitulável

Era assim que eu queria acordar, como antes, sentindo uma grande estima pelo dia que começa e me desligando dos que acabaram. Toda manhã ganho a oportunidade de escrever uma nova frase, construindo versos rimados, como se cada rima fosse uma lembrança breve daquilo que quer se repetir, ou simplesmente remeter à histórias passadas, para me lembrar que nada morre completamente a ponto de ser esquecido.
Vou construindo estrofes e cada uma delas é uma parte minha que desaflorou, sempre parece que a última é mil vezes mais madura que a anterior, releio alguns versos, e os vejo tão amadores, tão burros, tão mal escritos que chego a duvidar se um dia seria capaz de fazer algum similar.
Hoje certas coisas pequenas já não me causam mesmo efeito, não sei se seria sempre assim, mas a sensação de ter uma cabeça sobre meu peito é tão comum, a única coisa que sinto é aquele calor específico de um corpo, um pouco mais frio que o meu, enquanto vemos um filme interessante. Damos às mãos e sinto apenas dedos macios, só que mais quentes, posso ter a temperatura compórea tatilmente maior que as outras pessoas, mas minhas mãos e pés não são afetados, são por vezes gélidos. Nenhuma afeição ou conforto me tomou como, muitas vezes, achei que aconteceria, nada que me envolvesse profundamente se evidenciou, foi normal, como tantas outras ocasiões: trivial e rotineira.

Não quero alterar a minha noção de bons momentos e perder a chance de me admirar com o simples, seria exigir demais pedir para que inovassem para me agradar, que arriscassem vidas ou travassem um confronto excitante entre monstros marinhos, já somos complexos calados, mais ainda falando, e perfeitamente mais quando queremos nos sentir especiais e admirados. Prefiro continuar me sentindo bem comigo quando vou à biblioteca para compartilhar aquele silêncio de vozes abafadas, quando vou ao museu ver todos aqueles objetos antigos que sempre estão lá, imóveis e repetidos, entendo que nenhum desses ambientes me surpreenderá, muito menos ativarão meus extímulos de adrenalina, mas não pretendo criar imunidade ao básico, isso preservará os grandes momentos, aumentando meu estado de graça quando acontecerem. Ontem eu morri ao dormir, meus propósitos mudaram, minha maneira de escrever a continuidade do poema também, utilizo uns parâmetros e dispenso outros - os menores - , acreditando que eles não irão surtir efeito por serem pequenos na comparação, e a cada dia subo um degrau vendo o anterior desaparecer para que eu jamais retorne; vou subindo, subindo, mudando minha visão, exigindo, cobrando, querendo, se continuar assim, nesse aumento desenfreando de padrão, chegarei a um patamar impossível de ser alcançado por um humano, então me preparo desde já, para saber crescer sem achar que nasci em um mundo incapaz de suprir meus desejos, pois se há um lugar para que eu me realize, é aqui, agora e com o mínimo.