Guarde isso: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo. C.F.A

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O dia em que volto para casa

Em algumas sextas-feiras, como o de costume - que com o passar dos tempos tornou-se menos frequente - volto para casa. Admito o quanto acho prazeroso ir embora só para um dia poder voltar para casa, mesmo para passar algumas horas, que somadas darão um dia e meio aproximadamente. Ir por ter que ir, voltar por ter saudade, às vezes não voltar por pura falta de tempo vago; vejam só que cômico: um dia de férias acordo com a minha mãe nos meus encalços reclamando da hora
- Mas hora de quê, se nada tenho para fazer? Digo com esse mesmo tom recitado dos romances Shakesperianos.
Naquela casa eu já tive "nada para fazer", e agora meu tempo é preenchido o suficiente para que eu pouco retorne àquele local, sendo que ainda continuo muitas vezes sem "nada para fazer".

Voltar para casa me toma tempo, um fim de semana sem esperanças de encontrar alguma farra extravasada por aí na madrugada, me custa a organização de planos futuros, nunca se sabe, enquanto eu volto para casa alguma coisa muito extraordinária pode acontecer para aqueles que ficaram, e eu perderia toda a diversão, tenho a impressão de que todo mundo guarda o melhor da festa para o dia em que eu volto para casa. Então o fim de semana acaba e eu descrubro que tudo continou na mais perfeita ordem.

Ao chegar em casa, sempre aquela recepção amorosa, um abraço apertado, um soco no ombro, um "demorou muito dessa vez hein?!", sorrisos, conversas, filmes em MUTE e nossas vozes construindo uma nova dublagem, o dia de sair e visitar um aglomerado de pessoas que repetidamente dizem que eu cresci, que estou assim e assado, que sentiram saudade, mas minha cabeça sempre indo embora sozinha, imaginando o que deve estar acontecendo com os que não voltaram pra casa comigo. No domingo, o dia de ir embora de novo, dói. Eu queria ficar mais um pouco ouvindo aquelas história da minha irmã que sempre parece ter crescido um palmo, e criado corpo demais para a idade dela, eu queria ficar mais um pouco pra fazer meu irmão rir e me chamar de idiota ou retardado só para não admitir que me acha o cara mais engraçado do mundo, eu queria ficar mais um pouco para conversar horas com meu pai sobre coisas de gente grande, que é o que eu sou, eu queria ficar mais um pouco para ouvir a minha mãe me por em um pedestal, me enchendo de sorrisos renovados. Mas não dá, tenho que ir embora, e vou tranquilo porque sei que um dia voltarei para casa de novo.

Voltando para o mundo, com mais saudade de casa do que nunca, corro ao telefone para me interar com as novidades, e mais uma vez com surpresa, escuto dizerem que "planos haviam, mas como eu estava de viagem, deixaram para a próxima". Sempre foi assim, me preocupo à toa com o que pode acontecer enquanto sumo, esquecendo que meus amigos e eu somos demasiadamente parecidos, e que eles jamais me deixariam por fora, assim como eu jamais o faria com eles. E todo aquele tempo, em que minha cabeça ia embora pensando no mundo e no quanto ele estava sendo legal sem mim, foi perdido, poderia ser usado com minha família, para perceber que realmente minha irmã estava com mais corpo do que o nomal para a idade dela. Sinto uma grande realização pessoal ao saber que lá e aqui tem gente que me espera, seja para o almoço à mesa ou para a reunião de filme, vinho e conversas jovens na madrugada, ou melhor, sinto uma imensa realização ao saber que sempre será prazeroso ir embora, só para um dia voltar para casa, e vice-versa.

Por Enquanto


"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba"


Doce novembro chegando ao fim, o tempo voando como folhas de um fichário aberto, ao fim do caminho apenas eu, indo de volta pra casa.