Guarde isso: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo. C.F.A

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Histórias de elefantes em gaiolas.

Ontem mesmo, depois de almoçar e brincar de cambalhota em cima das almofadas, comecei a anotar, ainda ofegante com as voltas que dei no chão, uma mini coletânea das metáforas que rondam acontecimentos na minha vida. Algumas aparecem como sonhos e outras de verdade verdadeira. Antes de ontem, depois de algumas chateações fiquei sozinho em casa, desejando ver um filme que só tinha visto uma vez, mas que tinha me feito um bem enorme, eu não lembrava o nome, nem os atores, só lembrava do bem, e como em um passe de mágicas o filme apareceu bem na minha frente, na sessão de sábado da Record. Como das outras vezes, fiquei pasmo, tem sido assim desde que desejei tomar um banho de chuva e choveu, e que surpeendentemente a minha banda preferida veio tocar na minha cidade, meu desenho preferido começou a ser exibido no horário que eu posso ver, e meu irmão pela primeira vez tenha passado de ano sem recuperação, e que eu tenha me divertido tanto com tão pouco. Tenho sonhado coisas que fazem sentido, sonhei com dois partos, uma amiga minha sonhou com um parto de gêmeos, depois de rirmos da coincidência de sonhos, descubro que o mais novo membro na minha família acabara de nascer; comprei um picolé me reclamando que nunca achei palito premiado, e ahan, o palito da vez era.

E a mais última me surpreendeu de maneira assutadora, enquanto eu trabalhava fui analisando as raivas, incompreensões, injustiças, gritos de felicidade, surtos de afeto e coisas que vivi ou deixei de viver por me prender, então recebo uma mensagem lá do Rio Grande do Sul dizendo o seguinte:

"Bebê! Sonhei contigo essa noite. Eu tinha ido para Pernambuco, na tua casa. E tu criava um elefante em uma gaiola!"

O interessante é um dia antes meu irmão ter dito: Sabe por quê os elefantes vão acabar extintos? Porque eles incomodam muita gente.

É isso, sempre foi isso, aquilo que mais me incomoda vive sufocado, seguindo regras de educação, convivência e senso comum, estagnado no tempo como a Macabéa de Clarice, sem hora nem estrela. A minha parte maior e mais espetacular, as desilusões, as raivas, a beleza, as risadas exageradas, tudo reprimido, tudo o que eu pude ser e não fui é um grande e pesado elefante em uma minúscula gaiola.

Quando sinais são interpretados como sinais tudo passa a fazer sentido, num encaixe simétrico, na perfeição, no aproveitamento de tudo como parte de um todo, e eles me seguem desde que passei a notá-los. Acho que comecei a aprender o que é realmente viver, os sinais são apenas a prova de que não estou sozinho, e que devo prosseguir, me orgulhando muito por ser intérprete de bobagens, um pouco lezado e habitante de um mundo paralelo.

*Para ler a sinopse do filme que eu estava com vontade de ver, clique aqui