Súditos temem reis, não por serem maus, mas por se mostrarem invulneráveis. Ter medo dos fortes é considerar-se fraco, ou um forte com baixa estatura, e talvez um forte descalço na areia quente do sol do meio-dia, o que não equivale a muito, ou consideralvemente nada. Reflexões à parte, sempre tive medo da minha incomensurável arte de não sentir, de dormir na Antártida de camisa regata e short sem temer frio algum, comparar-me ao chão branco de neve, não na minha brancura exagerada, mas na minha frieza sem sentido. Cheguei a julgar-me egoísta, altivo e mesquinho. Cansado das ladainhas do permita-se, pense menos, viva mais, faça, aceite, escute, veja. Um pouco mais cansado ainda, de ter medo do rei na minha barriga, invulnerável, introspecto, embora amigável com o mundo, feio.
Aceito.
Aceito a ideia de me por em off, paro de pensar, permito-me, com ou sem medo dou passos em direção ao escuro, sigo mais forte e decidido do que nunca, escuto gargalhadas, músicas, cheiro de pipoca, explosões, palhaços, aglomerações, me distraio, até que minha visão se adapta ao ambiente, tarde diga-se de passagem, bato de frente com o muro, não sei se quebrei algo, talvez sim, a cara.
Mudo.
Não de calado, mas de mudado. Como se a mão do mágico sobrevoasse a cartola, e Ohhh! Tenho medo agora de ter me permitido, medo da vulnerabilidade, de não proteger-me ainda com um escudo na mão, medo do medo.
E depois.
Depois da pedra atirada, da palavra proferia, da ocasião perdida e do tempo passado, volto a ser rei aos poucos, como se eu sozinho fosse dizimando o exército inimigo e sentindo o gosto da vitória, vou vendo em cada corpo perfurado por minha lança o resumo do caminho para o trono, o épico renasce, ao fim da batalha a invulnerabilidade estará reestabelecida. Para não perder o gosto da contradição sentirei medo de novo, medo do rei quando eu me considerar súdito, medo do súdito quando eu me ver como rei, medo de mim nas duas faces, o que sente, e o que não sente. Se todo o mal traz o bem na mão, todo o medo traz a coragem em algum lugar, e aí sim terei coragem, me permitirei com coragem, pensarei com coragem, e se acaso sentir, a coragem não me deixará tropeçar, muito menos bater de frente com muros ou montanhas. E até a coragem não surgir, me igualo a neve, se possível até na brancura, assim serei impercepítivel aos olhos de quem quer que seja.
Aceito.
Aceito a ideia de me por em off, paro de pensar, permito-me, com ou sem medo dou passos em direção ao escuro, sigo mais forte e decidido do que nunca, escuto gargalhadas, músicas, cheiro de pipoca, explosões, palhaços, aglomerações, me distraio, até que minha visão se adapta ao ambiente, tarde diga-se de passagem, bato de frente com o muro, não sei se quebrei algo, talvez sim, a cara.
Mudo.
Não de calado, mas de mudado. Como se a mão do mágico sobrevoasse a cartola, e Ohhh! Tenho medo agora de ter me permitido, medo da vulnerabilidade, de não proteger-me ainda com um escudo na mão, medo do medo.
E depois.
Depois da pedra atirada, da palavra proferia, da ocasião perdida e do tempo passado, volto a ser rei aos poucos, como se eu sozinho fosse dizimando o exército inimigo e sentindo o gosto da vitória, vou vendo em cada corpo perfurado por minha lança o resumo do caminho para o trono, o épico renasce, ao fim da batalha a invulnerabilidade estará reestabelecida. Para não perder o gosto da contradição sentirei medo de novo, medo do rei quando eu me considerar súdito, medo do súdito quando eu me ver como rei, medo de mim nas duas faces, o que sente, e o que não sente. Se todo o mal traz o bem na mão, todo o medo traz a coragem em algum lugar, e aí sim terei coragem, me permitirei com coragem, pensarei com coragem, e se acaso sentir, a coragem não me deixará tropeçar, muito menos bater de frente com muros ou montanhas. E até a coragem não surgir, me igualo a neve, se possível até na brancura, assim serei impercepítivel aos olhos de quem quer que seja.