Ele descobriu que não sabia mais o que queria da vida, não sabia mais de nada, só vivia e deixava fluir. Às vezes segurava um livro nas mãos para permitir que o tempo passasse sem ser notado, fechava os olhos para fingir cegueira e assim deixar de ver tudo o que ele desejava passar à sua frente, em direção a um mundo onde ele não tinha licença para entrar. Tudo passava, a alegria passava, a dor passava, e então a companhia, as gargalhadas, as amizades, a vontade, tudo. Quanta coisa passava, e ele também foi passando, caminhando, de olhos cerrados, com o livro nas mãos, com medo. As ruas iam ficando para trás, no peito um arrependimento chato o fazia ter vontade de ficar, de não passar também, de esperar, vai que as coisas apenas dão voltas, vai que depois de algum tempo elas possam chegar ao ponto inicial, e se ele não estiver lá esperando? Mesmo assim ele seguiu, porque entendeu que por mais que as coisas voltem, um dia elas partiram, e o que é pra ser de verdade nunca se vai.