Guarde isso: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo. C.F.A

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Um narciso para Elson Junior

Hoje vim falar sobre flores, especificamente os narcisos, belos, mas tão belos quanto qualquer rosa em qualquer jardim de qualquer canto dos campos Elísios possa ser, tão cheiroso que as lagrimas saltam aos olhos com tamanho aroma, tão leve que as abelhas disputam a delicadesa exagerada do seu pólem, uma flor que se foi como tantas outras, murchou de acordo com o ciclo natual das flores.

Há mais de dois anos cultivo comigo o prazer da presença de dois grandes amigos, e por eles guardo um sentimento tão forte quanto qualquer outro, formamos o trio, não apenas isso, formamos um trio de três, com um sabor agridoce resultado de uma mistura de costumes, a união de uma gaúcha, um fluminense e um pernambucano, a harmonia mais sublime que presenciei até os dias de hoje, e dessa união brotaram flores, a dona Renilda Narcisio, ou simplesmente tia Rê, mãe do Elson Junior (vulgo Idiota), o tal fluminese, e ela nos adotou (a Vanessa e eu) primeiro como sobrinhos, depois como filhos, e assim sentimos que eramos enfim, irmãos separados pelo destino. Com a tia Rê aprendi a fazer pudim de um jeito diferente, tudo por dicas no skype, também aprendi que comigo nunca dá certo, e desde então ela me deve um pudim de um jeito diferente feito por ela, consistente e bonito, ela também me ensinou que vale a pena lutar por quem amamos mesmo que seja doloroso, e que um problema pessoal pode ser substituido pelos problemas alheios se a nossa maneira de resolvê-los for melhor e eficiente, sabe, um dia eu estava triste e ela recitou Drummond para mim, que fantástica, desde então aquele verso que deixei se perder é agora o poema de "Drummond por Renilda Narcísio", em outra ocasião ela quis saber porque eu chamava o filho dela de idiota e eu disse "porquê ele também me chama assim... E mais, é a nossa maneira agressiva de dizer o quanto nos gostamos, depois que ele passou a ser 'o idiota' o que antes poderia ser ofensa, agora é a minha mais fiel demonstração de afeto, se o mundo fosse idiota assim, seria, por completo, feliz".

Nessa manhã sou informado que perdemos a nossa flor, tia e também mãe, que lutou durante anos pela própria vida porque sabia que outras dependiam dela, e que embora fossem crescidos, o filho sempre deve ter de garantia um futuro e o marido um presente. O dia está nublado lá fora e eu não estou feliz, porque aquela voz doce nunca se materializará na minha frente para me abraçar e me chamar de "titikinho" novamente, porque terei que me virar sozinho se quiser comer aquele pudim feito de um jeito diferente, e o que aumenta a minha tristeza, e também a da Vanessa, é o fato de não estarmos agora ao lado do nosso Idiota, o "tchau tia" ficará silênciado. A distância é traiçoeira, mas nunca impediu que a nossa amizade se perpetuasse, somos uma família que acaba de perder um membro de extrema importância, e nem um abraço podemos dar à pessoa que mais sofrerá com essa perda.

A única coisa que posso fazer é expor aqui a letra de uma música, a qual um dia em uma conversa com a tia Rê, eu disse que entoaria a minha ida desse mundo, ela amou a ideia e disse que a minha criatividade rodeava até a minha morte:

"[...]Onde você estiver, não se esqueça de mim
Quando você se lembrar não se esqueça que eu
Que eu não consigo apagar você da minha vida
Onde você estiver não se esqueça de mim"

Obrigado por tudo, oh Narciso de valor intríseco.