Guarde isso: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo. C.F.A

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O último não tão romantico

Sentar na varanda ao entardecer e tomar um copo de café meio amargo,
odeio café,
cenários romanticos não se inserem no meu contexto,
sou regido por vênus, Deusa do amor
nasci em abril, o mês dos amores eternos
tanto amor em volta,
uma pseudoprofecia que tenta me comandar como marionete
mas meu elemento é o fogo, a impulsividade,
esse fala mais alto,
a lascividade, o sim, o querer mais que bem querer
e sempre querer
minha grosseria é disfarçada por algo singelo
lobo em pele, olhar e sorriso de cordeiro
bala de tamarindo em embalagem celofane
conduzido por desejos,
dependente de uma boa companhia para conversas,
estupidamente curioso e refém do conhecimento
totalmente diferente do esperado
qual a graça em ser previsível?
Defendo o que sei que quero, uso a retórica
e mais um punhado de informações interessantes que vão te prender, dopar.
No meu olhar, sabedoria.
Meu ser, cativante.
Eu, dono de mim.
Desejo, o menos realizável.
Signo, Áries.
Futuro, indeterminado.
Presente, com lacinho e carta rubricada.
Passado, a morte.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Canção de ninar gente grande.

Perco a conta da quantidade de canções para ninar gente pequena, com suas melodias "água com açucar"- em definição quase literal, algo doce que acalma. Ser gente pequena faz bem, é bom e alimenta, regozija a alma e faz crescer, mas é preciso ser gente grande às vezes, e para isso não há canção de ninar, nem doces de gratificação, só há um mundo exigindo que a insônia seja seu aliado, afinal quem precisa de descanso em uma terra de gigantes? A força da plenitude deve suprir a necessidade de dormir, o tamanho do ser, em análise estética, faz dele um grande heroi, e herois não dormem.

Quando abro a porta dou de cara um numeroso exército, tentando provar a sua solicitez competitivamente, acreditando que dormir seria perder tempo, e tempo é tudo que não pode ser perdido, com ele vão pessoas, sentimentos e glória, talvez enquanto fechamos os olhos o mundo acabe e o que tivesse de ser dito seria eternamente silenciado, as ações eternamentes imobilizadas e o amores jamais conquistados. Hipnos, deus do sono na mitologia grega, perdeu a leva do raciocínio, não sabe mais se é útil fazer dormir, por isso a falta de canções de ninar gente grande, acredito que ele seja o compositor. São tantas olheiras profundas, nenhum descanso, e sempre, sempre, sempre a mesma batalha em busca do que deve ser conquistado e o infindável debate sobre aquilo que foi perdido. Agora precisamos dormir, todos nós. Renovar a altivez e a esperança, e encontrar calmamente aquilo que realmente é nosso, se possível, compor nossas próprias cantigas e cantá-las sussuradamente até que a voz vá sumindo, sumindo, sumindo e enfim, após uma noite de sono, o novo dia, e uma nova vida, onde gente grande merece ser ninada.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Rapidinhas #12

Inteligente? Só quando não quero;
quando quero sou burro, animalesco, bocó.
- Olha, o lezado que me faz rir,
ele é tão engraçado - bradava a criança.
Que nada, baby, eu sou é desastrado.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pega-varetas é vida

Quem nunca jogou pega-varetas que atire a primeira tora de madeira gigante. Um dos jogos antigos mais divertidos, que exige concentração e paciência; mas o que está implícito?

Um complexo de sábio têm me invadido, procuro criar analogias para tudo, e percebi que brincar é uma paráfrase da realidade humana. Eu sou o pai, você é a mãe, esse aqui é nosso filhinho, eu sou o rei, você é o súdito e deve me obedecer, eu sou Jó, você é o escravo (Jó nem teve escravos) e deve jogar cachangá.

Pega-varetas reflete a nossa relação com os outros, as cores representam as diferentes personalidades, qualidades e também defeitos, cada uma merece uma pontuação diferente, dispensamos algumas cores, as menos relevantes, almeijamos as mais, e o nosso objetivo principal é sempre uma, aquela que faz tudo valer a pena, a de 50 pontos na sua singularidade e completa indiferença, não é a mais bonita, sempre é a mais difícil, e ainda assim por mais que unidades de varetas sejam conquistadas, por mais pontos adquiridos, a nossa obsessão paira no ar, se a conseguimos a felicidade emana no nosso sorriso vitorioso, a hegemonia exala no suor da testa, e se não conseguimos, ainda que ganhando o jogo, sentimos a decepção de nadar e morrer na praia, deixando até de perceber o quanto as coloridinhas são bonitas e alegres, com valor e serventia intríseca, preocupamo-nos apenas em não balançá-las, ninguém quer ser responsável por danos causados à outros na busca de algo pessoal.

Essa foi a historinha que elaborei e contei enquanto brincava com alguns amigos, todos disseram:
- Faz sentido.
E para não perder a oportunidade eles disseram antes:
- Você 'viaja' demais.

Rapidinhas #11 (alheia)

"E - de repente - senti. Estava tudo muito bonito. Esse mês de dezembro tá tão lindo, tão manso. Tão novo. Tão eu novo." (Caio F. Abreu)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Histórias de elefantes em gaiolas.

Ontem mesmo, depois de almoçar e brincar de cambalhota em cima das almofadas, comecei a anotar, ainda ofegante com as voltas que dei no chão, uma mini coletânea das metáforas que rondam acontecimentos na minha vida. Algumas aparecem como sonhos e outras de verdade verdadeira. Antes de ontem, depois de algumas chateações fiquei sozinho em casa, desejando ver um filme que só tinha visto uma vez, mas que tinha me feito um bem enorme, eu não lembrava o nome, nem os atores, só lembrava do bem, e como em um passe de mágicas o filme apareceu bem na minha frente, na sessão de sábado da Record. Como das outras vezes, fiquei pasmo, tem sido assim desde que desejei tomar um banho de chuva e choveu, e que surpeendentemente a minha banda preferida veio tocar na minha cidade, meu desenho preferido começou a ser exibido no horário que eu posso ver, e meu irmão pela primeira vez tenha passado de ano sem recuperação, e que eu tenha me divertido tanto com tão pouco. Tenho sonhado coisas que fazem sentido, sonhei com dois partos, uma amiga minha sonhou com um parto de gêmeos, depois de rirmos da coincidência de sonhos, descubro que o mais novo membro na minha família acabara de nascer; comprei um picolé me reclamando que nunca achei palito premiado, e ahan, o palito da vez era.

E a mais última me surpreendeu de maneira assutadora, enquanto eu trabalhava fui analisando as raivas, incompreensões, injustiças, gritos de felicidade, surtos de afeto e coisas que vivi ou deixei de viver por me prender, então recebo uma mensagem lá do Rio Grande do Sul dizendo o seguinte:

"Bebê! Sonhei contigo essa noite. Eu tinha ido para Pernambuco, na tua casa. E tu criava um elefante em uma gaiola!"

O interessante é um dia antes meu irmão ter dito: Sabe por quê os elefantes vão acabar extintos? Porque eles incomodam muita gente.

É isso, sempre foi isso, aquilo que mais me incomoda vive sufocado, seguindo regras de educação, convivência e senso comum, estagnado no tempo como a Macabéa de Clarice, sem hora nem estrela. A minha parte maior e mais espetacular, as desilusões, as raivas, a beleza, as risadas exageradas, tudo reprimido, tudo o que eu pude ser e não fui é um grande e pesado elefante em uma minúscula gaiola.

Quando sinais são interpretados como sinais tudo passa a fazer sentido, num encaixe simétrico, na perfeição, no aproveitamento de tudo como parte de um todo, e eles me seguem desde que passei a notá-los. Acho que comecei a aprender o que é realmente viver, os sinais são apenas a prova de que não estou sozinho, e que devo prosseguir, me orgulhando muito por ser intérprete de bobagens, um pouco lezado e habitante de um mundo paralelo.

*Para ler a sinopse do filme que eu estava com vontade de ver, clique aqui

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Rapidinhas #10

Ainda que não existisse nada a ser dito, deixar de se falar era a última hipótese cogitada.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ilumine suas ideias

Uma boa ideia perde essa classificação se não vier conectada à sustentabilidade, ou tantos outros "dades": responsabilidade (social), rentabilidade e criatividade. Troquemos então todo foco de luz artificial dos pensamentos por um bom satélite de luz natural, que tenha, em sua capacidade de refletir e seguir a luz, um brilho próprio e atraente.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sim

Sim eu quero.
eu quero isso que você está me oferencendo;
eu quero acordar cedo e ver que ainda está escurinho;
eu quero ligar o rádio e ouvir aquelas velhas canções;
eu quero me surpreender com o quanto a vida muda com o tempo;
eu quero dizer coisas sem sentido e ser entendido;
eu quero ouvir um susurro assim de novo;
eu quero pedir pela milionésima vez que cante aquela música;
eu quero exigir uma nova música sempre que eu enjoar a anterior;
eu quero dar motivos para que isso nunca acabe;
eu quero dar a segurança da minha palavra;
eu quero a sua em troca, e espero que ela me dê segurança;
eu quero tudo isso, e de novo, de novo, de novo, e mais um pouco;
eu quero dizer sim. Não, eu não só quero, eu digo:
SIM
porque eu quero tudo isso que você está me oferecendo.
E como quero. Eu quero você também, bem assim como eu quero, e tudo isso, e mais uma vez tudo.
É bom ter o que querer, sabia?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Rapidinhas #9

... e sempre sorria muito de tudo, assim, quando finalmente resolvesse sorrir de verdade e para si, ninguém notaria a diferença.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Muito bom, hein.

Tenho chegado tarde em casa, perdi aquela necessidade de sempre estar conectado ao mundo, meu celular com defeito não emite som quando "toca", dificilmente atendo uma ligação, muita gente reclama que chega a ser irritante me ligar mais de 10 vezes até que, por sorte, eu perceba que a luzinha do visor está piscando, minhas contas de sites na internet só são movimentadas enquanto o sol brilha, assumi meu toque de recolher, me recolher para mim. Pela primeira vez em anos os meus momentos são meus, o tempo abafado da cidade me inspira a andar, procurar coisas novas, atualizar minha lista de contatos, tem sido divertido de uma maneira singular.
Busco tranquilidade, para ficar perfeito só faltou aquele aspecto nublado e um ventinho frio no rosto, amo dias nublados, talvez também aquela garoa rara nessa região, que quando surge me encoraja a aventurar por aí. Com um fone no ouvido insisto em ser retrô, escutando sucessos romanticos dos anos 80 (para baixo), Simple Red se tornou mais legal, até mais frequente que os Beatles. Acabei aprendendo que para encontrar gente que me dê aquela boa impressão de que somos dotados dos mesmos gostos, preciso frequentar lugares que me fazem bem, tecnicamente lá estarão outras pessoas que se sentirão bem da mesma maneira, não sei como, mas puxaram violentamente um enorme manto escuro da minha cabeça, estou vendo coisas que antes eram desconhecidas, estou descobrindo de verdade, sentindo o sabor disso, parece que na página 100, capítulo 4, do meu manual, tem um espaço reservado com ensinamentos de como fazer o que vai me deixar bem comigo, e quais pessoas eu precisaria conhecer para que isso acontecesse. Ainda ouvindo Simple Red, e saindo de um dos meus "points", eu canto alto como se ninguém estivesse me ouvindo: You Make me Fell Brand New.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Rapidinhas #8

A sensatez deve ser sucumbida pelo calor do sentimento, com destreza é claro, e um cuidado cirurgico que evite cicatrizes indesejadas.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Intitulável

Era assim que eu queria acordar, como antes, sentindo uma grande estima pelo dia que começa e me desligando dos que acabaram. Toda manhã ganho a oportunidade de escrever uma nova frase, construindo versos rimados, como se cada rima fosse uma lembrança breve daquilo que quer se repetir, ou simplesmente remeter à histórias passadas, para me lembrar que nada morre completamente a ponto de ser esquecido.
Vou construindo estrofes e cada uma delas é uma parte minha que desaflorou, sempre parece que a última é mil vezes mais madura que a anterior, releio alguns versos, e os vejo tão amadores, tão burros, tão mal escritos que chego a duvidar se um dia seria capaz de fazer algum similar.
Hoje certas coisas pequenas já não me causam mesmo efeito, não sei se seria sempre assim, mas a sensação de ter uma cabeça sobre meu peito é tão comum, a única coisa que sinto é aquele calor específico de um corpo, um pouco mais frio que o meu, enquanto vemos um filme interessante. Damos às mãos e sinto apenas dedos macios, só que mais quentes, posso ter a temperatura compórea tatilmente maior que as outras pessoas, mas minhas mãos e pés não são afetados, são por vezes gélidos. Nenhuma afeição ou conforto me tomou como, muitas vezes, achei que aconteceria, nada que me envolvesse profundamente se evidenciou, foi normal, como tantas outras ocasiões: trivial e rotineira.

Não quero alterar a minha noção de bons momentos e perder a chance de me admirar com o simples, seria exigir demais pedir para que inovassem para me agradar, que arriscassem vidas ou travassem um confronto excitante entre monstros marinhos, já somos complexos calados, mais ainda falando, e perfeitamente mais quando queremos nos sentir especiais e admirados. Prefiro continuar me sentindo bem comigo quando vou à biblioteca para compartilhar aquele silêncio de vozes abafadas, quando vou ao museu ver todos aqueles objetos antigos que sempre estão lá, imóveis e repetidos, entendo que nenhum desses ambientes me surpreenderá, muito menos ativarão meus extímulos de adrenalina, mas não pretendo criar imunidade ao básico, isso preservará os grandes momentos, aumentando meu estado de graça quando acontecerem. Ontem eu morri ao dormir, meus propósitos mudaram, minha maneira de escrever a continuidade do poema também, utilizo uns parâmetros e dispenso outros - os menores - , acreditando que eles não irão surtir efeito por serem pequenos na comparação, e a cada dia subo um degrau vendo o anterior desaparecer para que eu jamais retorne; vou subindo, subindo, mudando minha visão, exigindo, cobrando, querendo, se continuar assim, nesse aumento desenfreando de padrão, chegarei a um patamar impossível de ser alcançado por um humano, então me preparo desde já, para saber crescer sem achar que nasci em um mundo incapaz de suprir meus desejos, pois se há um lugar para que eu me realize, é aqui, agora e com o mínimo.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O dia em que volto para casa

Em algumas sextas-feiras, como o de costume - que com o passar dos tempos tornou-se menos frequente - volto para casa. Admito o quanto acho prazeroso ir embora só para um dia poder voltar para casa, mesmo para passar algumas horas, que somadas darão um dia e meio aproximadamente. Ir por ter que ir, voltar por ter saudade, às vezes não voltar por pura falta de tempo vago; vejam só que cômico: um dia de férias acordo com a minha mãe nos meus encalços reclamando da hora
- Mas hora de quê, se nada tenho para fazer? Digo com esse mesmo tom recitado dos romances Shakesperianos.
Naquela casa eu já tive "nada para fazer", e agora meu tempo é preenchido o suficiente para que eu pouco retorne àquele local, sendo que ainda continuo muitas vezes sem "nada para fazer".

Voltar para casa me toma tempo, um fim de semana sem esperanças de encontrar alguma farra extravasada por aí na madrugada, me custa a organização de planos futuros, nunca se sabe, enquanto eu volto para casa alguma coisa muito extraordinária pode acontecer para aqueles que ficaram, e eu perderia toda a diversão, tenho a impressão de que todo mundo guarda o melhor da festa para o dia em que eu volto para casa. Então o fim de semana acaba e eu descrubro que tudo continou na mais perfeita ordem.

Ao chegar em casa, sempre aquela recepção amorosa, um abraço apertado, um soco no ombro, um "demorou muito dessa vez hein?!", sorrisos, conversas, filmes em MUTE e nossas vozes construindo uma nova dublagem, o dia de sair e visitar um aglomerado de pessoas que repetidamente dizem que eu cresci, que estou assim e assado, que sentiram saudade, mas minha cabeça sempre indo embora sozinha, imaginando o que deve estar acontecendo com os que não voltaram pra casa comigo. No domingo, o dia de ir embora de novo, dói. Eu queria ficar mais um pouco ouvindo aquelas história da minha irmã que sempre parece ter crescido um palmo, e criado corpo demais para a idade dela, eu queria ficar mais um pouco pra fazer meu irmão rir e me chamar de idiota ou retardado só para não admitir que me acha o cara mais engraçado do mundo, eu queria ficar mais um pouco para conversar horas com meu pai sobre coisas de gente grande, que é o que eu sou, eu queria ficar mais um pouco para ouvir a minha mãe me por em um pedestal, me enchendo de sorrisos renovados. Mas não dá, tenho que ir embora, e vou tranquilo porque sei que um dia voltarei para casa de novo.

Voltando para o mundo, com mais saudade de casa do que nunca, corro ao telefone para me interar com as novidades, e mais uma vez com surpresa, escuto dizerem que "planos haviam, mas como eu estava de viagem, deixaram para a próxima". Sempre foi assim, me preocupo à toa com o que pode acontecer enquanto sumo, esquecendo que meus amigos e eu somos demasiadamente parecidos, e que eles jamais me deixariam por fora, assim como eu jamais o faria com eles. E todo aquele tempo, em que minha cabeça ia embora pensando no mundo e no quanto ele estava sendo legal sem mim, foi perdido, poderia ser usado com minha família, para perceber que realmente minha irmã estava com mais corpo do que o nomal para a idade dela. Sinto uma grande realização pessoal ao saber que lá e aqui tem gente que me espera, seja para o almoço à mesa ou para a reunião de filme, vinho e conversas jovens na madrugada, ou melhor, sinto uma imensa realização ao saber que sempre será prazeroso ir embora, só para um dia voltar para casa, e vice-versa.

Por Enquanto


"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba"


Doce novembro chegando ao fim, o tempo voando como folhas de um fichário aberto, ao fim do caminho apenas eu, indo de volta pra casa.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Meio assim, sei lá.

Por que não ver o mundo por outros ângulos?
Não que a habitual visão esteja com defeito, mas para um bom observador cada pedaço de tudo, quando invertido, exibe uma beleza oculta. Quem já experimetou ver por baixo das pernas teve a impressão de que descobrira algum detalhe novo. Se um dia tudo parecer estar de cabeça para baixo ou rodando, que seja, avalie como a oportunidade que faltava para viajar por outro mundo sem sair do lugar, veja as sombras dos móveis e tente adivinhar de que lado a luz está, depois tente distribuir a luz usando a caneta bic como prisma, vá aos poucos observando cada detalhe morto, perceba que ainda tem muita coisa para fazer sozinho em casa em um feriado nacional, descubra o mundo que existe entre quatro paredes, e quando te perguntarem o que vai fazer amanhã a noite, diga a verdade: Descobrir coisas novas e tentar conquistar o mundo.

domingo, 14 de novembro de 2010

Cheiro de menta e pipoca

Como se amar fosse fácil. Diante de tanta banalização talvez seja, no ato verbal somente, e amar verbalmente não equivale a amar de fato, nem amar de nascença como acontece no amor familiar. A verdade é que sempre amamos um imenso nada, em um mundo com diversos pretestos para que isso ocorra, amamos as músicas que ouvimos, o ar que respiramos, as cores e a nossa capacidade de discerni-las, o estar de pé, deitado ou agachados, amamos em tonalidades, texturas e gostos, amamos uma variedade de interrogações que multiplicam-se paralelamente.
Uma manifestação involuntária de sentimentos percorre nosso corpo como o sangue as artérias, até que um dia descobrimos que podemos direcionar tudo isso, naquilo. Podemos usar alguém para justificar esse amor ao nada, e a partir de então damos ao amor um rosto, uma voz, um cheiro, uma personalidade, uma vida própria. Sublinho com linhas grossas e tinta vermelha que essa subversão de sentimentos não acontece com frequência, como gosto de dar números às coisas, pressuponho que possa acontecer apenas três vezes na vida, uma como aprendizado, outra como aprimoramento e a final como o fim, o total amadurecimento e aproveitamento do amar, verbo transitivo. Logicamente, limitando-se a apenas um trio de etapas, elas distanciam-se para dar proporcinalidade aos acontecimentos, uma fase nunca estará tão próxima da outra que possa vir a substitui-la, pois uma só começa quando a outra acaba. Me vejo ainda na primeira etapa, o meu gênesi, e para que eu consiga seguir caminho precisarei consumir todo e qualquer vestígio de amor, sabendo-se lá quando e onde esse longo caminho acaba, muito menos ainda onde o outro começa. Transbordo-me em frases ricas de detalhes internos, revelando ao mundo o quão humano sou para admitir que amo, não necessariamente um novo cenário novelístico, mas o mesmo de sempre, e manifesto-me em épocas distintas apenas para não ser repetitivo e constante, amo como antigamente, amo como há uns dias atrás, ou como manhãs passadas, ainda amarei amanhã de manhã, e assim continuarei consumindo, consumindo, consumindo até que isso acabe. É amando que se deixa de amar, e que assim seja.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Trecho de filme

Os pais dos outros sempre parecem ser mais legais que os nossos, e os nossos avós são sempre melhores do que os de todo mundo. (The Dreamers)

Em alguns filmes, frases sutís me prendem mais do que as impactantes e inteligentes. Admiro muito os diálogos, metafóricos ou objetivos, com conteúdo, sito exemplos clássicos como "O Silêncio dos Inocentes" ou "Onde os fracos não têm vez", sendo o segundo um filme longo e enfadonho, muito tenso, mas que em duas conversas consegue superar qualquer vestígio de cansaço (o assassino e o comerciante/ o assassino a senhora Moss), já no enredo do serial killer Dr. Hannibal Lecter, histórias sobre ovelhas, uma completa aula da psicologia de um assassino e um embate emocionante de mentes entre ele e a Clarice.

Outros exemplos tão bons quanto, é o Coringa e a sua capacidade de nos fazer compreender a sua loucura através de frases irônicas e sádicas. Entretanto, nada no cinema supera o prazer de ouvir algo bem simples, sem arranjos e parafernalhas, como a frase do inicio do post. Nas três vezes em que acompanhei Os Sonhadores (uma intrigante obra-prima francesa) me deslumbrei com o a veracidade da afirmação, das duas últimas vezes (vi com companhia) percebi que não causa efeitos apenas em mim, sempre tem alguém que vai dizer "É verdade", e sorrir, como se identificasse com o trecho. Afinal, é verdade: Os pais dos outros sempre parecem ser mais legais que os nossos, e os nossos avós são sempre melhores do que os de todo mundo.

domingo, 31 de outubro de 2010

O primeiro dia

As eleições 2010 foram palco de constantes e incansáveis discursos de defesa e acusação entre candidatos. Polêmicas foram abertas, assuntos relevantes entraram, momentaneamente, em cena servindo com o único intuito de persuadir diretamente o eleitor.

Embora eu tenha declarado minha imparcialidade, fiz o que mais da metade do país também fez, votei em quem agora se diz presidente da República Federativa do Brasil. Sem nenhum argumento concreto que justifique minha decisão, apenas acreditei que seria o menos pior. Agora começo a contestar a qualidade da nossa democracia, de que adianta ter o poder de decisão quando não temos boas opções? Longe de julgamentos à candidatos A ou B, faço minhas as palavras da Rita Lee: no final tudo vira bosta.

Podemos ter orgulho da quebra da constância do poderio machista no mais alto cargo executivo, é um longo passo para a história do Brasil, um advento político; ainda assim sabemos que mudanças grandiosas não irão ocorrer, só mudamos o sexo do sistema, e nada mais. Presenciei amigos próximos em pé de guerra, defendendo seus candidatos como uma mãe defende um filho, e em momento nenhum proferi qualquer palavra de cunho opinativo, pelo simples fato de não saber o que dizer. Cheguei a considerar-me um cidadão sem valores políticos, falando "tanto faz" sempre que me perguntavam algo do gênero.

Talvez eu tenha desacreditado da democracia, bastante falha na prática, mas cheia de significados na teoria. A mais utópica das ideias, é a do poder do povo. Somos limitados a escolher o que tem pra hoje, como em um restaurante tabelado, e vamos comer dessa comida por quatro longos anos, isso não é poder de decisão, é imposição implícita. É absurdamente triste saber que no quinto maior país do mundo, não exista alguém ético o suficiente para assumir um governo. Não tive o desprazer de arrepender-me do meu voto, o dei hoje, a única coisa que posso declarar, diante de tudo o que tem acontecido, é: E seja o que Deus quiser.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Antes da chuva, a chuva

Brasilia - DF, novembro de 2008. Um dia nublado, uma chuva, um ônibus, e eu a observar por seu parabrisas o movimento das ruas. Como se o mundo de fora fosse um outro. A cena se repete, não em Dejavù, era real, com dois pares de tênis, azul e preto. E como o tempo nem sempre segue linear, agora só os pretos de novo; a volta à 2008, um dos bancos vazios, e aquela música tocando, dizendo que estranho seria se...

Uma carta

Trecho de "O Primo Basílio".

...tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente, era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréssimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pessoas e pessoas.

"Somos aquilo que temos", afirmam os vilões de novela idólatros das coisas materiais. Eu particularmente odiaria ser um peso de papel em formato de globo terrestre de cristal, mas convém concordar em partes com a frase, levando, óbvio, para um lado nobre e sentimental (que meigo).

Sim, caros mortais, eu sou o que tenho. E, por ventura da minha eficácia nas escolhas, sou apenas uma coisa que tenho: Amizade.

Você acorda como quem não quer nada, para viver mais um dia, achando que tudo que poderia acontecer já aconteceu e etc, etc, etc. Até que alguém surge, como um figurante daqueles filmes de desastres naturais, gritando e correndo ao seu lado tentando subir na colina antes que a onda gigante, consequência de um super-meteoro que caiu no oceano, o mate. Coisas tão frequentes como a citada, são suficientes para uma bela amizade surgir, não porque você simpatizou com o fulano assim, de cara, e sim porque ambos estavam em uma situação similar.

Foi em um ambiente bem singular e seleto que conheci ela, especificamente falando, na Olimpíada de Português de 2008 (clique no "ela" por favor).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Rapidinhas #7

Definiram então o vermelho como a cor da paixão.
Depois disso os dautônicos vivem eternamente confusos, veem paixão onde não há, veem paixão nas árvores, paixão quando o semáforo abre.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Intertextual

Acordaria cedo por muitos dias corridos, e correria, de início para evitar o atraso, depois para observar as ruas e seus ocupantes em menos tempo, por fim de sí mesmo. Acabou deixando de perceber os presentes que recebera nas esquinas, onde alguém sempre o esperava na expectativa de ser visto, sua pressa impedia seus olhos de verem quem o observava - com olhar brilhante e de contemplação. A solidão para ele era como uma aliança matrimonial: conturbada, solícita, única. Sua sensatez serviria de venda para os olhos, a inconstância seria um arco e flecha (envenenada), as incertezas, doces para crianças bobas. Poetizaria. Escreveria semanalmente mais uma página do seu diário, julgaria o que era necessário ou desnecessário como Deus julga quem é digno. Com frieza ouviria declarações de afeto e nada diria a não ser: acontece. Precisava de carinho e dizia sem preconceito, assumia a carência e a importância do tempo. Divertia meio mundo com seu carisma, que só existia onde houvesse mais de duas pessoas. Em seu quarto, era apenas mais um surrado por dentro, lutando por liberdade. Amava personagens do seu próprio espaço cênico e não admitia interferências nos atos. Pierrot. Com autoridade de monarca, definia pontos finais, era contestado com outros pontos, agora continuativos, e nessa briga de direito à pontos, longas reticências seriam abertas, e a história nunca morreria. Não recebia mais o mensageiro por ter destruído sua caixa de correspondência. E passaria dias assim: desejado, amado (embora não acreditasse), sozinho, sem cartas, sem presentes, fugaz.

Ele gostava tanto dessas palavras começadas por in – invisível, inviolável, incompreensível -, que querem dizer o contrário do que deveriam. Ele próprio era inteiro o oposto do que deveria ser. "Caio F. Abreu"


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A falta, a sobra e a chuva.

É um tanto estranho às vezes, não compreendo porque existe a falta daquilo que nunca se teve, saudade da criança que não nascera por interrupção do destino, posses intocadas e imaginárias que se perdem e causam prejuízos, ainda que nenhuma cédula de valor tenha sido gasta. Uma vida presa ao abstrato, algo que poderia ser e acabou não sendo. Saudade da roda-gigante em que poderiamos ter brincado, do filme que poderiamos ter visto, daquilo que ficou no "quase". Me flagro olhando para o telefone, como se esperasse tocar, e de súbito lembro que não acontecerá, é a força do hábito, alimentado umas poucas vezes e que poderia durar toda a vida se dependesse de mim. Quando não escuto mais as vozes, sobra o eco, por dentro, de uma música cantada, ou de algumas frases ditas e memoradas, ficaram as canções e nada mais ficou. Sobrou um no quarto, o que não correu quando disseram que o último seria a mulher do padre, e muita coisa também sobrou, a falta por exemplo, tem de sobra. Leio um trecho interessante em alguma lugar por aí

"Há tempos em nossa vida que contam de forma diferente.
Há semanas que duraram anos, como há anos que não contaram um dia.
Há paixões que foram eternas, como há amigos que passaram rápido, apesar do calendário mostrar que eles ficaram por anos em nossas agendas.
Há amores não realizados e beijos não dados que até hoje esperam o desfecho..."

Sou obrigado a discordar do final, pois se teve algo que sobrou, foi a certeza de que o desfecho é certo e imultável. Desfecho do que nunca iniciou por pura falta de coragem, ou de oportunidade, ou de certezas; a falta de uma chuva que não caiu mais, uma chuva estranha que me enxarcou na volta pra casa, depois daquele primeiro dia em que um mais um foi igual dois, em meio às ruas cheias de lama, sentados em bancos, na chuva, mas sem se molhar, imperveáveis não, protegidos, por tetos e janelas móveis, um trêm ou um ônibus, uma nave espacial, sei lá, algo que nos faz viajar, eu viajei em duplo sentido, para algum lugar onde sobra e falta tudo, desproporcionalmente, mais falta do que sobra, e o que sobra é apenas a falta, sobra eu sozinho também, mas só um pouco, e que ninguém saiba disso.

"Guarde esse recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo."