Não que eu não morda. Eu mordo sim, mas só às vezes e só de leve, me mordo mais do que mordo os outros; me mordo de ciúmes, de dúvidas, de vontade ou só para deixar aquela marquinha de dente, mas mordo, e não leve isso só como metáfora, eu literalmente me mordo, da mesma forma que um bebê pode chupar o dedo, em ambos os casos sentimos o nosso próprio sabor. Vivemos em tempos de autofagia, e não só por isso, me mordo para sentir uma pontinha de dor, e não negue, sentir é bom mesmo quando é ruim, morda-se, saiba se é doce ou amargo, salgado ou azedo, insípido!
Morda-se, e prove que existe dor gostosa, e que não fere, e que não arranha, e que não machuca, e que não existe para doer como dor, mas como o prazer ter o controle sobre a própria dor. Morda os lábios quando desejar, morda a língua quando se concentrar, morda as unhas quando se preocupar, morda a mão para se sentir vivo, morda orelhas, queixos, cangotes e bocas. Só não esqueça: morda de leve.
Morda-se, e prove que existe dor gostosa, e que não fere, e que não arranha, e que não machuca, e que não existe para doer como dor, mas como o prazer ter o controle sobre a própria dor. Morda os lábios quando desejar, morda a língua quando se concentrar, morda as unhas quando se preocupar, morda a mão para se sentir vivo, morda orelhas, queixos, cangotes e bocas. Só não esqueça: morda de leve.