Não que eu não morda. Eu mordo sim, mas só às vezes e só de leve, me mordo mais do que mordo os outros; me mordo de ciúmes, de dúvidas, de vontade ou só para deixar aquela marquinha de dente, mas mordo, e não leve isso só como metáfora, eu literalmente me mordo, da mesma forma que um bebê pode chupar o dedo, em ambos os casos sentimos o nosso próprio sabor. Vivemos em tempos de autofagia, e não só por isso, me mordo para sentir uma pontinha de dor, e não negue, sentir é bom mesmo quando é ruim, morda-se, saiba se é doce ou amargo, salgado ou azedo, insípido!
Morda-se, e prove que existe dor gostosa, e que não fere, e que não arranha, e que não machuca, e que não existe para doer como dor, mas como o prazer ter o controle sobre a própria dor. Morda os lábios quando desejar, morda a língua quando se concentrar, morda as unhas quando se preocupar, morda a mão para se sentir vivo, morda orelhas, queixos, cangotes e bocas. Só não esqueça: morda de leve.
Morda-se, e prove que existe dor gostosa, e que não fere, e que não arranha, e que não machuca, e que não existe para doer como dor, mas como o prazer ter o controle sobre a própria dor. Morda os lábios quando desejar, morda a língua quando se concentrar, morda as unhas quando se preocupar, morda a mão para se sentir vivo, morda orelhas, queixos, cangotes e bocas. Só não esqueça: morda de leve.
Um comentário:
Nem sei se permito mais surpresas em relação ao que vc escreve! Pena não estar viva, dando aulas, daqui há uns 30 anos ... seus escritos certamente estarão nos livros que as gerações vindoras estudarão nas suas aulas de literatura...com professoras sem barbas e bigodes, ou COM, afinal, daqui para lá quem sabe acabaram os rótulos? Ou não...
Postar um comentário