Guarde isso: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo. C.F.A

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Abrindo o ano com chave de ouro-verde

Um ano promete ser bom ainda nos primeiros dias. Como o de costume o primeiro dia de Janeiro foi perpetuado com o meu "ritual singelo anual" de reunião de amigos na minha casa, um ou dois filmes - algo bem engraçado -, almofadas no chão e toda a comida que sobra do jantar da noite anterior, uma beleza! Um ponto diferente desse ano foi a ilustre presença da minha família que não viajou por um detalhe técnico que impossibilitou o uso do cartão de crédito em boa parte da Bahia (infâmia), mas tudo bem, foi divertido em igual escala, no dia seguinte um belo passeio pelo parque e assim fechamos o feriadão. Começando a semana, como era de se esperar, algo perturbadamente entranho tem que acontecer para que eu possa me reconhecer, não haveria de ser diferente.
Logo pela manhã, um homem de seus quarenta anos bate palmas à frente da minha casa, e eu o atendo gentilmente através da grade de proteção da porta dizendo

- Pois não?!
- Bom-dia. Você sabe me informar onde fica a casa do Padre?
- Ah, sei sim, é essa verde logo à frente.
Ele, faz um breve movimento com a cabeça a procura da casa indicada, mas sem sucesso volta a me chamar
- Rapaz! Qual casa verde?
- Essa aí, bem na sua frente... Na verdade como o senhor está olhando pra cá, ela está bem nas suas costas, mas se o senhor virar ela automaticamente estará na sua frente.
- É que não tem casa verde aqui.
- O senhor não vê? A verde, a única casa verde da rua.
-Não, não vejo, você tem certeza de que o Padre mora aqui?
- Claro que tenho, eu moro aqui, e sei quem mora nessa rua.
- Olha, eu estou meio sem tempo e acho que a casa não é aqui.
-Meu Deeeus! É a verde, super verde, olha direito que não é difícil, verde, verde, verde. Eu disse num tom "levemente" alterado.

Notei o olhar de incredulidade do homem, mas evitei sair para esfregar a cara dele naquela parede verde musgo gritante, tinha muito trabalho no escritório, e me dirigir até o lado de fora seria demorado - a quantidade de cadeados na minha casa é assustadora. Mais alguns minutos parado ao meu portão e em silêncio, ele entra no carro e parte, obviamente incompreendido, deveria ser daltônico ou algo do tipo, coitado. Horas mais tarde, ganho alguns afazeres que permitem a minha saida de casa, e ao cruzar o portão que dá acesso à rua dou de cara com a casa mais Rosa que eu já vi em toda minha vida - com ênfase em toda a minha vida- não só rosa, mas um rosa que diz "Oi, eu não sou Verde seu imbecil", foi um choque, juro pela sua mãe mortinha que bem cedinho quando fui à padaria a casa ainda era verde - caralho! Odeio estar errado -, jamais imaginei que em uma manhã o bendito padre fosse capaz de mandar pintarem a casa. Eu ri. Ri do pobre homem achando que eu estava tirando com a cara dele, ri da minha certeza assassina da cor daquela casa, ri da decepção do homem ao não encontrar a casa, ri da quantidade de palavrões que tive vontade de dizer àquele, até então, dautônico ou quase cego que não sabe o que é uma casa verde, e assim abri o meu ano. Feliz ano novo.