Numa das vezes que tropecei nos calcanhares, naquela não tão distante infância, esfolei os joelhos nos grãos grosseiros da areia. Lembro da dor, do sangue, do impacto, da preocupação da minha avó, suas reclamações que mais pareciam carícias, a água da torneira batendo no ferimento, o sabão desinfetando, o merthiolate se aproximando - com a trilha de "Tubarão" como fundo musical- vermelho como nunca, fazendo arder.
- Ai, tá doendo. Eu dizia.E logo aparecia uma daquelas "vó-explicações", naquele doce "vó-jeito" de ser, para justificar:
- Se dói, é porquê está sarando.
Foram precisos alguns anos para eu perceber que é assim que a vida funciona. Genial, vozinha! Genial.
3 comentários:
Cada dia vc me surpreende mais!! Essa sua intimidade única com as palavras; esse seu caso de amor picante com a narrativa me deixam impressionada!!
Ainda tou precisando que o sangue escorra,p depois vir a dor da cura!!!
Nem a isso a geração de agora tem direito. Methiolate não dói mais. :T
Tudo tão confuso que ninguém mais sabe o que é dor e o que não é.
Mas fica a lição: alguns ferimentos precisam de remédios que aumentem a dor, para depois sararem. Não só em esfolações.
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