Guarde isso: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo. C.F.A

sexta-feira, 25 de março de 2011

Algo que marca

Leve na lembrança a singela melodia que eu fiz pra ti, e ainda na lembrança guarde as cartas, guarde também qualquer traço do que sobrou de mim, se houver algo que sobrou; não acredito que eu tenha sido o suficiente para bastar e ainda deixar sobras, talvez eu tenha sido o vinho que deixou a taça meio cheia, ou meio vazia (a depender de como fui visto), ainda longe de transbordar e manchar eternamente a toalha da mesa, ou talvez eu tenha sido o vinho branco que insiste em não manchar nada, que elimina vestigios de sua existência apenas com um copo d'água. E por não deixar manchas ou marcas da minha passagem, quem há de lembrar de mim? O que há de lembrar de mim? Nada, nem ninguém. De maneira otimista digo que aprendi a ser assim, imperceptível. De maneira pessimista digo que não sou o que veio para ser percebido, embora tentasse. Por isso escrevo, faço cartas, entoo músicas, é o meu método de mostrar o que sinto ou quero, e por ser deveras excentrico, sou taxado de sonhador, inocente, bobo. Esse é o artifício dos vinhos que não mancham: deixar um aroma, a rolha, o rótulo, qualquer coisa que supere o fato deles não existirem para serem intensos. Acredito na arte dos vinhos, aquela que se apoia no tempo para dar vida e sabor à bebida, e com o tempo espero aperfeiçoar minha intensidade de vinho, espero ser suficiente para transbordar taças, manchar toalhas de mesa, saciar olfatos e escolher a minha própria taça, uma firme, que realce minha cor, que não tremule, pois se a taça cai, eu caio. Quero ser o vinho da safra que é exportada porque deu certo, e não a que permanece à esmo no galpão, esperando ser consumido por alguém que bebe qualquer coisa.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Um olhar, o meu.

Chega um dia em que tudo acontece como se nada tivesse acontecido antes, melhor, chega um dia em que tudo acontece como se TUDO que tivesse acontecido antes agora fosse NADA, mais nada. E esse nada que sobrou de tudo, é tudo, é o que desejamos, é a nossa liberdade, é o nosso suspiro de alívio após um tempo conturbado na tentativa de esquecimento, é o se ter consigo e precisar de si para ser forte, é ser o soldado principal do próprio exército, é não cair nunca mais na mesma armadilha, é voltar a ter perspicácia, é voltar a se importar mais com o mundo, cuidar mais do mundo, ser o mundo sem se desligar do próprio infinito particular, é ser eu e saber que isso é bom, é você ser você e também saber que isso é bom; esse nada é o resgate do poço, e para mistificar com beleza, é o ressurgir das cinzas. A cada dia que um ser aprende a se amar, e em casos como o meu, voltar a se amar como antes, torna-se mais fácil, por mais decepcionante que possa ser às vezes, amar o próximo, mas com cautela, um olho fechado e outro aberto, sem deixar de crer nas atitudes e palavras dele e assim saber sentir o que Deus nos ensinou, aquilo de amar o próximo como a si. Enfim, sentir o nada que sobrou de tudo de antes, é voltar a se reafirmar, é o despertar para despertar, é ser dono da beleza da própria visão e poder dizer "gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele comigo". Sentir nada de tudo aquilo, é tudo.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Não sei jogar

Pensa num número...

Pensou?

Que pena, ele não vai servir pra nada.

É assim que eu concluo a brincadeira do "pensa num número", sabe, aquela em que você tem que pensar em um número qualquer, dividir por sei lá quanto, somar, traçar uma reta no infinito e no final conseguem dizer exatamente que número você pensou, trata-se de uma equação viciada bem simples, e para a felicidade do meu irmão eu sempre me impressiono para fazer o esforço dele valer a pena. Já fui ótimo para brincadeiras e piadas na época da escola, com o tempo parece que perdi a graça e a criatividade, tornei-me um chato, ou apenas perdi a parte da memória onde se encontram essas coisas, e tantos joguinhos, frasezinhas, versinhos, musiquinhas e brincadeiras se foram, contra a minha vontade, por ter que lembrar de outras coisas consideradas mais importantes para a minha faixa de idade. Só agora comecei a resgatar o que foi perdido, mesmo que eu não ponha em prática, terei anotado no meu caderno tudo o que esqueci com facilidade, tudo em prol de um mundo menos chato como eu e mais idiota como meu irmão. Ah! Entre eu, ele e amigos próximos, idiota é a denominação para "bobo afetuoso".

sexta-feira, 4 de março de 2011

Aline, o fim mais que previsto, e menos merecido.


Ultimamente o pouco tempo que destino à televisão tem sido satisfatório, principalmente porque a Rede Globo enfim começou a acertar, sequencialmente, em novos formatos de séries. Uma que tem me agradado bastante, desconsiderando algumas falhas de roteiro, é Aline, a reprodução mais leve da Aline das tirinhas do Adão Iturrusgarai, considerada inadequada aos padrões de moral estabelecidas pela tv aberta. Uma jovem, dois namorados, os três juntos na mesma cama. Algo decididamente fadado a dar errado em se tratando de Globo, um canal que se recusa a inovar, repetindo sempre a mesma grade de programação há anos.

No episódio de ontem, dia 3 de março, consegui enfim sentir vontade de aplaudir tudo no final, o roteiro apostou em um musical com clássicos do pop rock brasileiro, e os atores, com toda a eficiência, representaram brilhantemente cada clip; ficou bastante claro que o episódio foi baseado nas músicas, e não o contrário, em um dos trechos a narrativa foi forçada a se encaixar na letra de "De repente, Califórinia", cantada pelo psicólogo da personagem principal. No mais, a sutileza foi marcante, roteiro e música andaram de mãos dadas. Senti orgulho por ter me envolvido tanto, e em algo tão diferente do que se é produzido no Brasil. Mas, como nem tudo são flores, a série foi cancelada, os boatos afirmam que por uma cena de troca de casais em um motel, o famoso "swing". Já não bastasse a não exibição do envolvimento amoroso entre o trio, agora entra a total não exibição de envolvimento amoroso de caráter, a melhor e mais feia palavra entra agora, imoral.

Findaram os motivos para ver televisão quinta à noite, talvez a hipocrisia da Grande Família Casta seja o que eles pensam que o telespectador espera ver, pois é, eles é que pensam, não duvido que daqui há alguns dias acabem expulsando a Fernanda Lima como todo o Amor e Sexo que ela traz, o último suspiro do atual cenário da relação homem, mulher, sexo e excentricidades do mundo moderno. E as novelas onde entram? Essas estão na lista dos "pseudorelacionamentos", nada inovadores, nada atuais, nada de nada.

???

Todo mundo sabe, afinal, como funciona cada tipo de coisa do coração, vamos ler "coisa" como sentimento, ainda assim acho que esqueceram de catalogar uma dessas coisas, a mais diferente, que não dói, doendo, que alivia, incomodando, que faz bem, corroendo e não consegue ser descrita por falta de definições claras; é exatamente isso que eu tô sentindo agora, não é por alguém ou alguma coisa, é por mim.