Guarde isso: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo. C.F.A

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Humano, demasiado humano

Eu me odeio. Eu me odeio com toda a força que eu tenho. Longe de qualquer contradição eu me odeio por me amar, por sempre achar que estou certo, que não cometi um erro, ou vários deles, me odeio por deixar as coisas passarem por mim, por não ter coragem de correr atrás do ônibus quando estou há apenas 10 metros dele, me odeio por não estar nem aí porque "esse sou eu", "esse é o meu jeito", cansei de usar essas justificativas também.

Cansei de ter que mostrar meu lado idealizado para instigar nas pessoas o desejo de me conhecer de verdade, eu não sou os filmes que vejo, muito bons por sinal, não sou as músicas que escuto, não sou os objetos legais que estão no meu quarto, não sou a minha coleção disso ou daquilo, não queria me preocupar em me esforçar para que gostem de mim, mas fiz isso, acabei esquecendo que aqueles que realmente gostam de mim não precisaram desses artifícios inúteis, eles me conheceram e depois conheceram o que me preenche, na simplicidade fiz os melhores e maiores amigos da minha vida.

Não te julgo se me achares forçado, eu posso ter sido em algum momento, não te julgo por achar que eu falo demais, eu sempre falo demais em todos os momentos; tudo na tentativa de mostrar o máximo de coisas possíveis em tempo recorde, mas de que adianta se a essência está sendo suprimida? Não faz sentido.

Sim, eu fui forçado por muito tempo, por quase um ano, fiz isso tão bem que até eu me convenci de que eu não teria do que pedir perdão, acretidei que tudo tinha passado, que tudo estava ótimo, eu forcei serenidade, forcei sorrisos, momentos, agressividade, eu fui uma farsa, e é assim que alguns me conhecem, como posso pedir que agora vejam o meu lado que realmente importa?

Sou uma boa pessoa, eu sei, e quero que isso seja o necessário a partir de agora. Vou tentar viver das consequencias disso, como antigamente, quando um sorriso e um bom dia eram suficientes, quero me culpar mais para ver que eu posso sim estar errado, que eu dei motivos ou que os deixei de dar, quero me perdoar por minhas falhas porque fui humano o suficiente para reconhecê-las, quero que você me compreenda, me entenda, me aceite.

sábado, 16 de abril de 2011

Morda-se/me

Não que eu não morda. Eu mordo sim, mas só às vezes e só de leve, me mordo mais do que mordo os outros; me mordo de ciúmes, de dúvidas, de vontade ou só para deixar aquela marquinha de dente, mas mordo, e não leve isso só como metáfora, eu literalmente me mordo, da mesma forma que um bebê pode chupar o dedo, em ambos os casos sentimos o nosso próprio sabor. Vivemos em tempos de autofagia, e não só por isso, me mordo para sentir uma pontinha de dor, e não negue, sentir é bom mesmo quando é ruim, morda-se, saiba se é doce ou amargo, salgado ou azedo, insípido!
Morda-se, e prove que existe dor gostosa, e que não fere, e que não arranha, e que não machuca, e que não existe para doer como dor, mas como o prazer ter o controle sobre a própria dor. Morda os lábios quando desejar, morda a língua quando se concentrar, morda as unhas quando se preocupar, morda a mão para se sentir vivo, morda orelhas, queixos, cangotes e bocas. Só não esqueça: morda de leve.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Rapidinhas #14 (Arnaldeando)

O meu talento não sumiu, talento não some, ele só tá lento.

Rapidinhas #13

Faça uma lista de tudo o que é necessário na sua vida, reavalie-a, se algo nela corre de você então é um bem desnecessário, entrou na lista errada.

sábado, 2 de abril de 2011

Meu aniversário

A cada novo dia eu acordo por puro e benéfico prazer de saber o que mais de estranho a vida me reserva, pois bem, aqui estou eu para relatar a mais nova façanha do destino para me ensinar que não estamos aqui a passeio, isso é sério, é diferente e é imprevisível. Vamos à dois fatos alineares:

1- 1º de abril, meu aniversário, o dia mais importante do ano para mim;
2- 31 de março, uma grande amiga minha sofre um acidente. Atropelamento.

Vamos unir fato 2 ao fato 1:

1º de abril, o dia começa fofinho, as mensagens brotam no meu celular, as pessoas que se importam comigo e lembraram da data me dão mais um motivo para sorrir, as pessoas que se importam comigo e não lembraram da data são perdoadas, as pessoas que lembraram da data e não se importam comigo são a prova de que devo dar menos importância a elas, embora eu não consiga. Tudo perfeito, exceto pelo fato da minha amiga estar em um hospital.

Nota 1: estamos no dia da mentira;
Nota 2: nem toda mentira tem graça.

O telefone toca e dessa vez para anunciar, não o início de mais um ano de vida mas o início de menos um ano de vida. Em estado de choque, recebo a notícia do falecimento, "ela não resistiu", foi o que me disseram, e ainda em estado de choque ganho força para prosseguir em estado de choque, algo sobe à minha garganta, os olhos umedecem, a boca seca, a dor vem e o mais pesado e dolorido de tudo, meu próximo aniversário seria também o aniversário do falecimento de alguém que gosto. Naquele momento me martirizei por todos os pontos aos quais faltei, queria dizer muito a quem agora não escutaria nada. Doeu. Mais nela do que em mim, muito em mim e menos nela, não sei, mas doeu. Diante desse contraste - felicitações de um lado e consolações do outro - reconheço o quanto amo viver e o quanto isso é divino; viver não é simples, é desafiador, é milagroso. Não me futilize por cobrar parabenizações, não importa em que dia seja, uma semana depois, um mês depois, mas o faça, porque um aniversário é a comemoração de uma vida que se prolonga. Poderia ser eu o atropelado e então agora falecido, e tudo o que ainda tenho pra dizer ou que você ainda tem para me dizer, onde fica? O que me acalmou foi poder ler o relato de quem se importa comigo, me emocionar com isso e saber que pelo menos com uma pessoa eu não teria dívida, porque resolvemos tudo em vida (Leia o relato aqui). Esse relato me deu o extímulo para dizer "poxa, algumas pessoas prestam atenção" e essas com certeza me velariam com sinceridade. Agora aos 19 anos, acho que a vida está passando rápido demais, e ela está sendo dura. Ano passado o meu primeiro de abril foi diferente, apaixonado, nesse eu estive mais uma vez sentido apenas o básico: amor ao próximo. Muita coisa ainda tem que acontecer. Minha amiga, com apenas 18 anos e tudo pela frente, agora morta, era o exemplo de que não devo tratar a vida com rancor, era o exemplo de que hoje é o dia de dizer "me perdoa?" ou também um "sim, eu te perdoo", ela foi o instrumento que o destino usou para servir como moral de uma fábula...

...O telefone toca, eu atendo:
- Sabe a morte dela? Então, fez parte do 1º de abril. Ela está viva. Dolorida, mas viva, vivíssima!

Senti alívio, senti que morrer de mentira é algo que deve acontecer à todos pelo menos uma vez, senti vontade de correr e gritar pra todo mundo com quem tenho dívida que não preciso esperar a morte vir para perceber que coisas devem ser ditas, senti ódio por saber que um filho da puta foi capaz de se aproveitar do dia da mentira para brincar com a vida de alguém dessa forma, senti que estar com 19 anos e poder sentir tanta coisa de uma vez só é tão divino quanto a vida e tudo mais. E assim foi o meu dia.

Feliz aniversário pra mim.